Infelizmente está se confirmando a percepção que tínhamos manifestado em ocasiões anteriores.
No Brasil está muito complexo para os empreendedores enfrentar toda a luta pala manutenção saudável da empresa e ainda enfrentar a guerra com a burocracia e o peso dos tributos do sistema brasileiro.
A Folha de São Paulo dá um banho hoje ilustrando a situação a partir de uma pesquisa feita pela FIESP (Federação da Industria de São Paulo).
É incrível essa situação. E, assim mesmo, o brasileiro se mostra propenso a empreender e apresenta uma disposição para isso e uma vontade de vencer incrível.
Se nosso país tratasse o assunto de uma forma mais racional e amigável ao ambiente empreendedor tenho certeza que os ganhos seriam de toda a sociedade.
Vejamos o material publicado hoje na Folha de São Paulo.
A indústria de transformação gastou R$
24,6 bilhões somente para pagar tributos no ano passado, valor que representa
10% da folha de pagamento do setor e o dobro do que investiram em pesquisa,
desenvolvimento e inovação.
Isso equivale a dizer que, para cada R$
1.000 desembolsados no pagamento de impostos, a indústria gastou mais R$ 64,90
em burocracia.
"Em vez de investir em tecnologia
para tornar a produção mais eficiente e entregar ao consumidor um produto
melhor e mais barato, o empresário é obrigado a gastar com a burocracia
tributária. "É um dinheiro perdido que vai
para o ralo", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de
competitividade e tecnologia da Fiesp (federação da indústrias paulistas).
Os custos diretos e indiretos da
burocracia representam 2,6% do preço final dos produtos, considerado o efeito
cascata na cadeia produtiva do pagamento de tributos desde a compra de insumos.
É a primeira vez que a federação
mensura o custo na indústria em nível nacional. Os dados, obtidos pela Folha com
exclusividade, serão apresentados amanhã em seminário em São Paulo. O objetivo
é discutir com os fiscos (estadual e federal) como simplificar o sistema,
evitar o excesso de normas e reduzir o número de tributos.
Para calcular o custo total gasto com
pagamento de impostos, o levantamento considerou uma amostra representativa do
setor, com 1.180 indústrias de todos os portes.
Dos R$ 24,6 bilhões, a maior parte foi
para pagar funcionários e gestores ligados à área tributária: R$ 16, 3 bilhões.
Em média, as empresas alocam dez pessoas para cuidar de atividades ligadas à
tributação, incluindo pagamentos fiscais, encargos sobre a folha de pagamento
ou de contabilidade.
Os gastos com instalação e
operacionalização de softwares, obrigações acessórias (livros, registros e
armazenamento de dados) e terceirização de serviços fiscais somaram R$ 6,5
bilhões. Os custos judiciais das empresas foram de R$ 1,8 bilhão.
Augusto Boccia, dono da indústria São
Rafael, fabricante de câmaras frigoríficas há 39 anos no Arujá (SP), diz que,
depois de idas e vindas, terceirizou a contabilidade e criou uma equipe interna
para conseguir cumprir o emaranhado de leis e regras.
"É impossível manter-se atualizado
e conseguir entender toda a legislação. Gasto em média R$ 50 mil por mês com
cumprimento da parte fiscal e contábil. Do meu faturamento anual, isso
representa 2,25%", diz.
Segundo o Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação, 30 novas normas tributárias são editadas por dia no
Brasil, o equivalente a 1,25 por hora.
Continua a matéria da Folha de São Paulo.
Burocracia afeta mais a receita da pequena indústria
- Folha de São paulo
por CLAUDIA ROLLI DE SÃO PAULO
As indústrias de pequeno porte do setor de transformação são as que mais sofrem o impacto dos custos administrativos e burocráticos para pagar tributos no país.
Enquanto na média o gasto com burocracia equivale a 1,16% da receita das empresas, entre as pequenas, o percentual chega a 3,13%, segundo levantamento nacional feito pela Fiesp (federação de indústrias paulistas).
Editoria de Arte/folhapress |
Do total de R$ 24,6 bilhões gastos para cumprir as exigências tributárias, R$ 6 bilhões saíram do caixa das pequenas. O gasto das médias foi de R$ 5 bilhões (1,64% do que faturaram) e os das grandes, R$ 13,6 bilhões (0,83% da receita).
Apesar de o volume de gastos ser maior, as empresas de grande porte conseguem contratar funcionários especializados para a área fiscal, e, com volume mais elevado de vendas, diluem os custos, diz o advogado Jorge Henrique Zaninetti, tributarista do Siqueira Castro Advogados.
MENOS INVESTIMENTOS
"As pequenas e as médias, mesmo quando optam por regimes tributários menos complexos (como lucro presumido e simples) têm de cumprir exigências que não dispensam a contratação de pessoal especializado ou serviços de terceiros", diz o empresário Denis Perez Martins, dono da Poly Hidrometalúrgica, fabricante de pequeno porte de metais sanitários.
A empresa gasta por mês R$ 6.000 em salários e manutenção de sistemas para conseguir atualizar softwares que permitem cumprir as obrigações fiscais e contábeis.
"Há cinco anos fiz meu último investimento na produção, comprando uma máquina. Não sobram recursos", afirma o empresário.
Advogados e especialistas em tributação informam que PIS, Cofins e ICMS lideram o ranking de reclamações dos empresários, por causa das constantes mudanças na lei e burocracia exigida para entender as regras.
25/09/2013
Análise: Custo da burocracia afasta investidores e tendência é ficar ainda mais alto
MARCOS CÉZARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Burocracia atrai burocracia, que atrai burocracia, que eleva os custos para as empresas. Isso acontece no Brasil devido à parafernália tributária/fiscal excessiva, que, no geral, mais complica do que simplifica.
O estudo da Fiesp é uma prova de que algo está errado no sistema fiscal e contábil do país. Mudar isso é fundamental para atrair investimentos estrangeiros.
Nenhum investidor se sente atraído por um país que, além de cobrar muito, complica para pagar.
O sistema tributário brasileiro apresenta problemas devido ao excesso e à complexidade das normas e ao elevado número de tributos. O resultado é que as empresas têm de deslocar para a atividade administrativa recursos que poderiam e deveriam ser usados na produtiva.
O presidente do Sescon/SP (sindicato que reúne as empresas de serviços contábeis do Estado), Sérgio Approbato Machado Júnior, diz que o sistema tributário/fiscal do país é tão complexo que "a maioria das empresas não tem condições financeiras para atender às necessidades do fisco".
Para Machado, "mudar a estrutura atual exige um projeto de governo, e não apenas um programa da Receita". Um exemplo de como a Receita complica é a instrução normativa nº 1.397, publicada na semana passada e que trata da adoção, no Brasil, do padrão contábil internacional (IFRS, na sigla em inglês).
Essa instrução mantém um regime transitório de escrituração contábil, existente há mais de cinco anos, adiando a implantação de uma regra definitiva. A partir de 2014, passará a ser obrigatória a geração de duas escriturações contábeis: uma com base nas normas hoje em vigor e outra, para efeitos fiscais, com base nas normas contábeis de 31 de dezembro de 2007.
Resultado: mais custo.
Tudo indica que, mesmo com os avanços tecnológicos de um sistema como o Sped (Sistema Público de Escrituração Digital), nos próximos anos o custo adicional constatado pela Fiesp deverá ficar mais próximo de R$ 7 do que de R$ 6 para cada R$ 100 pagos em tributos.